Quando alguém me procura para uma consulta, é comum esperar que falemos apenas de pensamentos, emoções, traumas ou relações. Mas há sempre uma outra dimensão que trago para a sessão: o movimento.
E o movimento não é só exercício físico por si só.
É uma forma de estar no mundo. De o corpo se expressar, de se regular, de se conectar, seja connosco próprios ou com os outros.
A ciência já mostrou que o movimento muda o cérebro. Não apenas pelas famosas endorfinas, mas porque remodela estruturas cerebrais que tornam o cérebro mais recetivo à alegria, à conexão social e à esperança.
O corpo em movimento liberta hormonas que nos tornam mais resilientes ao stress.
E, talvez mais bonito ainda: o movimento ativa redes no cérebro ligadas ao propósito, ao cuidado, à pertença, à capacidade de fazer sentido da vida.
A verdade é que fomos biologicamente desenhados para nos movermos.
O propósito mais primitivo do nosso cérebro é gerar movimento. E ele recompensa-nos por isso — não só com energia e prazer, mas também com coragem, gratidão e ligação.
Como diz Peter Levine, o trauma fica “preso” no corpo. E como mostra a neurociência do movimento, o corpo também pode libertar o trauma, devolver-nos a sensação de vitalidade e permitir que nos voltemos a sentir vivos.
Mover-se é uma forma de autocuidado.
Pode ser uma oportunidade de superar desafios. Pode ser uma celebração da vida. Pode ser uma forma de conexão profunda — com a natureza, com uma comunidade, com quem dança connosco.
É por isso que avalio o movimento nas minhas consultas. Não só porque quero saber se faz exercício físico, porque quero saber:
-
habita no seu corpo?
-
Tem espaço interno para se mover com liberdade?
-
Consegue sentir prazer ao mover-se?
Movimento é vida. É regulação emocional, presença, sintonia, alegria e esperança.
E o mundo precisa mais disso.
O movimento é mais do que saúde física.
É presença, é expressão, é liberdade. É a forma mais esquecida, mas profundamente poderosa de regulação emocional.
Quando nos movemos, o corpo liberta esperança.
O cérebro orquestra prazer.
A nossa fisiologia ajusta-se para nos dar energia e coragem.
É como se todo o nosso sistema dissesse: “estás vivo, continua.”
E talvez o mais importante: o movimento liga-nos.
Ao outro.
Ao mundo.
Ao que é maior do que nós.
Quando nos movemos em grupo — numa dança, num jogo, numa caminhada — sentimos pertença, sintonia, alegria.
Celebramos a nossa natureza social. Tocamos o coração do que é ser humano.
Por isso movimento é vida.
É uma linguagem que o corpo fala antes das palavras.
Uma memória que o corpo guarda e, com o tempo, pode curar.
Uma forma de voltar a casa, de nos reencontrarmos com quem somos, e com quem podemos ser.

